P&D nos setores público e privado no Brasil: complementares ou substitutos?

Autores

  • Léa Velho
  • Paulo Velho
  • Tirso W. Saenz

Resumo

O objetivo deste trabalho é analisar a evolução das relações entre o setor público de pesquisa brasileiro - particularmente as universidades - e o setor produtivo, estimuladas de maneira direta ou indireta pelas políticas governamentais durante o período que vai desde os anos 70 até 2000. í‰ dada ênfase aos esquemas especiais
delineados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) que foi criado em 1985. O argumento que procuramos desenvolver é que as ações do governo que objetivaram aproximar as universidades e as empresas podem ter tido algum resultado apenas durante o período de duração de projetos específicos, mas foram incapazes de e insuficientes para criar ligações mais duradouras entre aqueles agentes. Isso se deu porque o setor privado, apesar de ter aumentado consideravelmente sua contribuição para a P&D, não investiu na criação de infra-estruturas próprias de P&D no nível da empresa. Conseqí¼entemente, as instituições públicas de pesquisa,
quando engajadas na colaboração com as firmas, funcionavam meramente como substitutas de uma estrutura inexistente de P&D no setor privado e não como parceiras de pesquisa. O papel da pesquisa nas universidades como complementar e não substituta para a pesquisa industrial é enfatizado em vários estudos recentes sobre inovação e será discutido na primeira seção desse trabalho. Em seguida, procederemos a uma análise da evolução das relações entre o setor público de pesquisa e a indústria no Brasil. Começaremos com um esboço do modelo de industrialização por substituição de importação adotado pelo Brasil, enfatizando o papel desempenhado nesse processo pela P&D local, quando o país vivia ainda sob o regime militar. A seguir, trataremos das mudanças naquelas relações í  medida em
que o país reorientava seu modelo de desenvolvimento, com o retorno ao regime democrático em 1985. O MCT criado naquele ano, tem desde então formulado e implementado inúmeros esquemas com o objetivo de estimular as ligações entre o setor público de pesquisa e as empresas. Apresentaremos então o que consideramos
o mais significativo daqueles esquemas, procedendo a uma análise dos seus resultados. Nossa conclusão é que as ações do governo para estimular os investimentos privados em P&D, assim como para intensificar as ligações entre as empresas e o setor público de pesquisa tiveram, até aqui, sucesso limitado.

Biografia do Autor

Léa Velho

Professora-adjunta do Departamento de Política Científica e Tecnológica, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), professora do Institute for New Technologies, da Universidade das Nações Unidas (Maastricht, Holanda), doutora em PCT pelo Science Policy Research Unit, da Universidade de Sussex (Inglaterra), tem, desde então, publicado extensivamente sobre política de C&T, tanto em periódicos nacionais e latino-americanos, quanto no exterior.

Paulo Velho

Analista de ciência e tecnologia do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). í‰ mestre em PCT pelo Science Policy Research Unit, da Universidade de Sussex e doutor em Ciências Sociais pela Unicamp.

Tirso W. Saenz

Bacharel em Engenharia Química e doutor em Ciências. Ocupou, em Cuba, os cargos de vice-ministro no Ministério de Indústrias, vicepresidente da Academia de Ciências, presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear e presidente da Comissão Nacional do Meio Ambiente. Atualmente, é pesquisador-associado do Centro de Desenvolvimento Sustentável, da Universidade de Brasília (UnB).

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